Kamilla Farias de Melo
A música está presente na vida de todos. Cada um tem seu som preferido e caracterizado para cada ocasião: refletir, dançar, descansar e até autoconhecimento. Os ritmos provocam respostas motoras, impulsionando expressões corporais. As letras despertam emoções e sentimentos. Esses efeitos levaram a música a ser cada vez mais incorporada às práticas terapêuticas. O tratamento que utiliza a música como terapia é chamada de musicoterapia.
A musicoterapia pode ser trabalhada nos tratamentos tanto de ordem física quanto emocional e mental. Qualquer pessoa pode ser tratada com musicoterapia sem restrições de idade. Esse método vem sendo utilizado há séculos. Algumas obras de filósofos gregos pré-socráticos registram o uso da música como terapêutico, mas a disciplina de musicoterapia teve início apenas no século XX, em vários países da Europa e nos Estados Unidos após as duas guerras mundiais. No Brasil, o primeiro curso de graduação em musicoterapia foi criado em 1975, no Conservatório Brasileiro de Música, do Rio de Janeiro. Em Brasília, começou há cerca de cinco anos com o trabalho de alguns especialistas e, há dois anos adquiriu maior força com cursos de especialização. No Distrito Federal apenas a Faculdade de Ensino e Pesquisa de Ciências da Saúde do DF (FAPECS) está oferecendo a especialização por meio do Instituto Vida Una. Para quem quiser fazer graduação ou mestrado o local mais próximo é a Universidade Federal de Goiás (UFG).
Segundo a musicoterapeuta Mônica Zimpel, hoje, em Brasília, atuam cerca de oito profissionais com graduação completa, estimando que até o final do ano se formem mais 30 profissionais na cidade. Mônica é graduada pela Faculdade de Artes do Paraná, trabalha há 12 anos com musicoterapia. Atualmente atende monitoras de creche em São Sebastião, é supervisora de estágios no curso de pós-graduação em Musicoterapia do Instituto Vida Uma e tem um consultório particular na Asa Sul. A terapeuta conta que uma das experiências mais marcantes de sua carreira foi com uma senhora viúva portadora do vírus HIV, adquirido pelo marido. A paciente estava em depressão e descobriu na música estímulo para viver. "Encontrou motivação para cuidar-se, envolveu-se em várias atividades em sua comunidade religiosa, exercícios físicos, cuidados alimentares e medicamentosos. Isso deu a ela um controle importante sobre o vírus no seu organismo", conta Mônica.
Para se tornar um musicoterapeuta é necessário conhecimento e domínio da música antes de fazer a formação propriamente dita. Durante a graduação, o aluno estudará a anatomia e fisiologia humana, psicologia, psicopatologia, psicoacústica fisioterapia, fonoaudiologia, filosofia, antropologia, história da música, métodos de musicalização, folclore, atividades criativas de apoio à música, expressão corporal, técnicas de terapia em grupo e tantas outras disciplinas necessárias a fundamentação científica desta profissão, principalmente métodos de educação musical com equilíbrio entre explorações dos sons corporais, vocal, ruídos, instrumentos rítmicos, melódicos e harmônicos. Há professores de música sem especialização em musicoterapia que facilmente adquirem técnicas e dão aulas à alunos especiais.
O professor de canto Paulo Beissá há três anos dá aulas a Carlos Felipe, um rapaz autista que tem 26 anos. "Carlos Felipe me exige mais atenção e flexibilidade nos métodos de ensino, mas o considero muito afinado e um dos alunos mais disciplinados", diz Beissá, com orgulho do aluno. Deusina Lopez, mãe do rapaz, diz que a música é um canal aberto para escuta, visão e sensações que qualifica a comunicação e interação social do seu filho, melhorando a qualidade de vida. "Conceitos e valores como amor, esperança, medo, futuro, temas de difícil compreensão para autistas, foram compreendidos pelo Felipe a partir das letras de música. Ele pergunta: O que é nova era glacial? (referência a uma canção de Tim Maia). O que é a gente era feliz e não sabia? (expressão cantada pelos Fevers)", conta Deusina.
Musicoteraupeuta desde setembro e professora de música há 14, Maridélia Matos teve a primeira experiência com a terapia ajudando gestantes com gravidez de risco. "A música é capaz de romper bloqueios relacionais e facilitar a emergência de situações conflituosas por meio da improvisação, criação, interação e autoconhecimento", diz. Hoje, Maridélia dá aulas de piano a uma senhora de 68 anos que sofre com a doença de Alzheimer. "A música a ajuda na atenção e concentração trazendo memórias do passado e atuais", afirmou.
Apesar de todos esses benefícios a musicoterapia ainda não é regulamentada no Brasil. O projeto de Lei 25/05 que regulamenta a profissão já foi aprovado pelo Plenário do Senado no dia 7 de outubro, faltando agora apenas a sanção do presidente da República. A União Brasileira de Musicoterapia (UBAM) está com uma manifestação em prol da aprovação. Quem quiser colaborar pode ter mais informações no site da UBAM: www.ubam.mus.br.
Publicado em 04/11/2008 por http://www.universoautista.com.br/autismo/modules/news/article.php?storyid=508
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