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sexta-feira, 28 de junho de 2013

Cientista brasileiro estuda remédio promissor para tratar autismo


28/06/2013 07h19 - Atualizado em 28/06/2013 07h29

Colunista do G1 estuda neurônios criados com células-tronco de autistas.
Alysson Muotri relata ter obtido resultados preliminares, mas positivos.

Rafael Sampaio Do G1, em São Paulo
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'É possível reverter neurônios autistas para um estado normal, ou seja, o estado autista não é permanente', diz Alysson Muotri (Foto: cortesia UC San Diego)O biólogo brasileiro Alysson Muotri, professor e
pesquisador nos EUA (Foto: cortesia UC San Diego)
O biólogo brasileiro Alysson Muotri, professor da Faculdade de Medicina da Universidade da Califórnia em San Diego, nos EUA, relatou ter obtido resultados preliminares, mas promissores, em pesquisas com medicamentos para tratar efeitos do autismo em crianças.
Analisando os genes de pacientes e reprogramando células-tronco obtidas a partir de células comuns para que elas se tornem neurônios, o cientista e sua equipe têm estudado em laboratório drogas que ajudem a reduzir as limitações presentes em autistas.
Em uma das pesquisas, apresentada em congressos, mas ainda não publicada em revista científica, Muotri, que é colunista do G1, aponta ter encontrado vínculo entre mutações genéticas que prejudicam a formação de sinapses (ligações) dos neurônios e alterações causadas pelo autismo. O estudo com uma criança que apresenta uma forma específica de autismo apontou que ela tem um gene defeituoso que dificulta a entrada de cálcio nos neurônios, o que atrapalha a proliferação das sinapses.
Os pesquisadores retiraram células comuns da criança e fizeram com que elas voltassem a ser células-tronco. Depois, elas foram reprogramadas para se tornarem neurônios. Eles, então, testaram medicamentos para estimular em laboratório o bom funcionamento do gene. "Todo mundo tem duas cópias de cada gene. No caso desta criança, ela tem uma cópia que está mutada [sofreu mutação] e outra que é funcional. Achamos uma droga que estimula o gene ativo a ‘funcionar’ em dobro", disse Muotri, que é pós-doutor em neurociência e células-tronco pelo Instituto Salk de Pesquisas Biológicas, também na Califórnia.
O medicamento que estimula o receptor de cálcio respondeu bem aos testes em laboratório e passou a ser administrado ao paciente diluído em chá, para avaliar os resultados. As primeiras observações, após um mês, mostram que a criança tem progredido em atenção e sociabilização. "Avaliamos através de questionários aplicados para os pais, professores, amigos da criança. Fizemos uma observação antes e depois da droga", aponta Muotri.
"Os dados que obtivemos depois de um mês são promissores, eles mostram melhora na atenção e na sociabilidade da criança", relata o professor. "Não é tão significativo porque tivemos que dar uma dose pequena", pondera, mas a descoberta é importante. "Abre uma perspectiva que estamos chamando de medicina personalizada. Baseado no genoma da pessoa e em testes com células-tronco induzidas, pode ser possível definir qual a melhor droga e a melhor dose a ser usada em um indivíduo", diz.
O caso do autismo é singular porque há vários tipos de distúrbios, causados por situações e mutações distintas. "Dificilmente você vai encontrar uma droga que vale para todo mundo", avalia Muotri. Ele diz que o tratamento que está sendo proposto, o da medicina personalizada, é similar ao que ocorre com alguns tipos de câncer. "Você retira algumas células e vai testando, até encontrar o medicamento e a dose certa."
O pesquisador vem ao Brasil neste sábado (29) para dar uma palestra no Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP), às 14h. A apresentação será em torno do tema: "Remodelando Neurônios Autistas com Células-tronco", e será mediada pela pesquisadora Patrícia Beltrão Braga, da USP.
Cérebro maior
O grupo capitaneado por Muotri também está investindo em outra linha de pesquisa - analisar dez crianças autistas com quadro clínico parecido, de cérebro com tamanho maior do que o normal. Os pesquisadores estão estudando se estes pacientes têm características genéticas similares, como alguma mutação.
A hipótese dos cientistas é que, se as crianças têm um cérebro grande, é porque elas têm mais neurônios do que o necessário para sua idade - por algum motivo as células nervosas podem ter crescido descontroladamente. "Nós estamos pesquisando drogas que inibam o crescimento dessas células. A ideia é controlar o aumento, estamos fazendo testes em laboratório", diz Muotri.
A previsão do professor é que essa linha de pesquisa vai dar respostas mais rapidamente. "Proliferação celular é algo que é estudado há muito tempo", pondera. "Talvez dois anos para começar a ter resultados com drogas.”
A Associação Brasileira de Autismo, Comportamento e Intervenção do Distrito Federal - Abraci-DF promoveu na manhã deste domingo(16), no Parque da Cidade, em Brasília, o evento "Juntos Somos Mais". Os organizadores montaram um posto de informação para tira (Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr )Atividade promovida pela Associação Brasileira de
Autismo, Comportamento e Intervenção do DF
(Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr )
Neurônios vivos
Um dos grandes problemas para entender o autismo é conseguir obter neurônios vivos, ressalta Muotri. "Muitas vezes são usados tecidos de autistas mortos, analisados depois que um paciente morre." Mas o avanço de pesquisas em células-tronco pluripotentes induzidas (conhecidas como células iPS, em inglês) está abrindo um novo caminho no estudo do autismo, diz o professor.
"A ideia é pegar células do paciente - cabelo, pele, polpa do dente - e fazer com que elas voltem a ser células-tronco. Então você as induz a se tornarem neurônios", explica o cientista. Pesquisas recentes apontam que o cérebro dos autistas, em geral, realiza menos sinapses (ligações entre neurônios para transmissão de informações), o que está sendo explorado nas pesquisas científicas.
"Começamos a testar medicamentos para elevar o número de sinapses, e alguns deles têm funcionado. Drogas como o fator de crescimento insulínico [IGF-1, na sigla em inglês]", diz Muotri. Um dos problemas do IGF-1 é que é uma proteína muito grande, que não consegue ser bem absorvida pelas camadas mais externas do cérebro. Moléculas menores estão em estudo, afirma o professor.
A novidade dos pesquisadores é que os testes com estas drogas até agora estavam restritos ao laboratório, e vão começar a ser aplicados em pacientes em breve. "A fase clínica de toxicidade já foi aprovada para alguns grupos que estão estudando crianças autistas. A ideia agora é testar em um número maior de crianças, para saber se, com seis meses a um ano de tratamento, elas estão melhores em diferentes aspectos, como respiração, ansiedade", informa Muotri.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Pesquisa revela conexões cerebrais fracas em crianças autistas


Estudo mostra razão pela qual autistas têm falta de sensibilidade à voz.
Pesquisadores fizeram imagens cerebrais por ressonância de 20 crianças.
Da AFP

Algumas crianças com autismo têm conexões cerebrais fracas nas regiões que relacionam o discurso com o sistema de recompensa emocional, revelou uma pesquisa na última segunda-feira (17), abrindo caminho para novos tratamentos.

O estudo publicado na revista "Actas" da Academia Nacional de Ciência dos Estados Unidos (PNAS) sugere, pela primeira vez, que a razão pela qual as crianças com autismo mostram uma falta de sensibilidade à voz humana pode se vincular a circuitos defeituosos nos centros de recompensa do cérebro.
"Uma conexão cerebral fraca pode impedir as crianças com autismo de experimentar o discurso como algo agradável", disse Vinod Menon, um dos autores do estudo e professor de Psiquiatria e Ciência do Comportamento na Universidade de Stanford, Califórnia (oeste).
Os pesquisadores fizeram imagens cerebrais por ressonância magnética de 20 crianças com um tipo alto de autismo. Elas têm um coeficiente intelectual normal, podem falar e ler, mas mostram dificuldades na conversa e na compreensão de sinais emocionais.
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Ao comparar as imagens com as de 19 crianças sem autismo, os cientistas descobriram que os cérebros dos menores com autismo mostravam baixas conexões com regiões do cérebro que liberam dopamina em resposta a recompensas.
No lado esquerdo do cérebro, as crianças autistas mostraram conexões fracas com o núcleo accumbens e a área tegmental ventral. Já no lado direito, no córtex de voz seletiva, onde são detectados os sinais vocais e de tom, havia um conexão fraca com a amígdala cerebral, que processa os sinais emocionais.
Os pesquisadores também determinaram que uma conexão mais baixa supõe uma pior capacidade de comunicação.
"A voz humana é um som muito importante. Não apenas dá significado, mas proporciona informação emocional fundamental para uma criança", afirmou outro autor, Daniel Abrams, um pesquisador de Pós-Doutorado em Psiquiatria em Stanford.
"Somos os primeiros a mostrar que essa falta de sensibilidade pode ser resultado de problemas de sistemas de recompensa no cérebro", completou.
Os resultados também sustentam a teoria de que as pessoas com autismo têm um déficit na motivação social que explica sua falta de atenção às vozes e às palavras, em vez de um déficit sensorial que lhes impede de ouvir palavras.
"É provável que as crianças com autismo não prestem atenção às vozes porque não são gratificantes, ou emocionalmente interessantes, o que afeta o desenvolvimento de sua linguagem e de suas habilidades de comunicação social", disse Menon.
"Descobrimos um circuito cerebral anormal que está por trás de um déficit básico no autismo. Nossas descobertas podem ajudar no desenvolvimento de novos tratamentos para esse transtorno", acrescentou.
Investigações adicionais também podem revelar se uma terapia chamada Treinamento de Resposta Essencial (PRT, do inglês "Pivotal Response Training"), que tenta motivar as crianças a usar a linguagem para a interação social, tem algum efeito no fortalecimento desses circuitos cerebrais.
O autismo, um transtorno do desenvolvimento cada vez mais diagnosticado, afeta uma em cada 88 pessoas nos Estados Unidos.
FONTE:
http://g1.globo.com/bemestar/noticia/2013/06/pesquisa-revela-conexoes-cerebrais-fracas-em-criancas-autistas.html

sábado, 1 de junho de 2013

Novela 'Amor à Vida' chama atenção para o autismo e para histórias de perseverança

Mães de crianças com autismo falam das dificuldades e conquistas diárias


Novela 'Amor à Vida' chama atenção para o autismo e para histórias de perseverança 1/Agencia RBS
Muryllo recebe o auxílio exclusivo da educadora Sandra, que atua como segunda professora Foto: 1 / Agencia RBS
Caroline Stinghen
A personagem Linda, da novela "Amor à Vida", da Rede Globo, interpretada pela atriz catarinense Bruna Linzmeyer, chama a atenção para o drama vivido pelos autistas. "A Notícia" conversou com três mães de crianças com autismo para mostrar as dificuldades e as conquistas.

Dificuldades começam no diagnóstico

Foi difícil entender por que Muryllo, quando ainda tinha dois anos, não conseguia falar as primeiras palavras comuns para crianças da idade dele. A mãe Amanda Zimmerhansl Leite, de 28 anos, estranhou a dificuldade do caçula em interagir com outras crianças.

— Ele entrava no armário e ficava lá —, lembra Amanda.

Com a ajuda de um neurologista e de psicólogos, ela conheceu o autismo - transtorno global de desenvolvimento. Depois do choque momentâneo, a família aprendeu a conviver com a condição de Muryllo e a ser tão feliz quanto qualquer outra. Eles estão acostumados com as pequenas diferenças e sabem aceitar as limitações de cada pessoa.

Após o momento da descoberta do diagnóstico, algumas mudanças tiveram de ser feitas na casa da família Leite. Amanda não pode mais voltar a trabalhar. A dedicação a Muryllo, hoje com seis anos, precisava ser total. A irmã Julya, de oito anos, aceitou bem.

— Com cinco anos, ela me disse que entendia a situação. E que iria cuidar dele por toda a vida. Imagine uma menina de cinco anos falar isso. Foi a coisa mais linda que aconteceu —, conta a mãe.

O apoio da irmã ultrapassou as paredes da casa e continuou no colégio. Os dois frequentam a Escola Estadual Jandira D'Ávila, no bairro Aventureiro. Ele entrou no primeiro ano do ensino fundamental _ assim como todas as demais crianças de sua idade _ e ela está no segundo. Quando o menino anda com Julya no recreio, ele é frequentemente abordado pelas demais crianças. Eles querem segurar a mão, interagir com o colega e ajudar de alguma forma.

— As meninas costumam beijar ele no rosto. Não gosto muito disso —, diz Julya, enciumada.

O afeto dentro da família é tão evidente que é até retratado em uma camisa que Julya fez questão de usar durante a reportagem: "Eu tenho um irmão autista", acompanhada de uma foto da dupla.

O carinho da família é bastante diferente do que é retratado todos os dias na novela das nove da Rede Globo, "Amor à Vida".

A atriz catarinense Bruna Linzmeyer, que nasceu em Corupá, interpreta a autista Linda. Na telinha, apesar da preocupação dos pais e do irmão mais velho, a irmã Leila ainda encontra dificuldades para entender o que se passa com Linda.

A importância das descobertas

No começo, também passamos por isso, não conseguíamos entender por que ele não obedecia, por que ele se isolava, por que as coisas tinham que ser do jeito dele. Hoje, nós sabemos que ele também precisa de limites e que precisa seguir uma rotina à risca —, explica Amanda, que tem acompanhado a novela.

Para a atriz, a preparação para viver uma jovem com autismo na ficção foi uma das coisas "mais ricas e emocionantes" que ela já viveu. Foram nove meses de estudos sobre o tema.

— Isso me acrescentou tanto que eu nem sei descrever. Eu fico até emocionada quando penso em tudo que aprendi. Esse é um universo muito rico, que me fez olhar tudo com outros olhos. Percebi que todos nós temos diferenças e semelhanças, medos e limitações, deficiências físicas e intelectuais. Não tenho dúvida de que não sou mais a mesma pessoa —, disse a atriz ao jornal carioca "Extra".

Érica adora ler


Foi no modo de brincar que a professora de inglês Jaqueline Lopes, 30 anos, notou que a filha Érica Lopes dos Santos, hoje com seis anos, estava com algum problema. A garota se isolava demais. Procurou a ajuda de pediatras, que confirmavam que não havia nada de estranho nisso. Mas a mãe estava desconfiada. Foi com a ajuda do médico pediatra Edmundo Weber Filho que ela encontrou o significado: o autismo.

Érica tem síndrome de Asperger, uma forma leve de autismo. Mesmo assim, Jaqueline largou o trabalho para cuidar integralmente da pequena.

— Ela frequenta a Escola Elias Moreira, no 1º ano do ensino fundamental, e tem notas ótimas. O apoio que ela recebe dos profissionais da escola nos ajuda muito —, destaca a mãe.

Assim que Érica tiver mais autonomia, Jaqueline pretende voltar a trabalhar.
Em casa, uma das atividades preferidas da menina é ler. O que faz muito bem. A concentração dela é tanta, que chega a encantar quem a ouve lendo as historinhas, inclusive, com entonação. Outra paixão são os cachorrinhos da coleção Chi-chi.

— Se perguntar o número de cada cão do catálogo, ela vai saber dizer qual a raça —, conta uma orgulhosa Jaqueline.

O que é autismo?
A primeira coisa que precisa ficar claro é que o autismo não pode ser considerado uma doença. É um transtorno global do desenvolvimento.

— Podemos chamar de síndrome, porque o autista tem um conjunto de sintomas. E cada pessoa pode ter um conjunto diferente —, explicou a psicóloga e especialista em autismo Ana Carolina Wolff Motta, que atua na Associação dos Amigos do Autista (AMA) de Joinville.

Os graus do autismo podem ser divididos em leves, médios e graves _ quando a dificuldade de interação é grande, o comportamento é bastante agressivo e há retardo mental.

As características principais e a mais visível é a dificuldade de interagir socialmente. Está é a primeira coisa que os pais percebem, quando os filhos ainda são bebês. Muitos ainda têm problemas na visão, na audição e, principalmente, na fala. O comportamento também pode ser restritivo e repetitivo. Muitas crianças costumam repetir os que os pais e professores falam.

— Esta é a grande batalha. Fazer com que a criança não só repita o que falamos. Mas que ela consiga se comunicar, que consiga se expressar —, explica.

É importante destacar ainda que nem todos os autistas têm deficiência intelectual. Segundo estudos, cerca de 60% a 70% deles possuem.

— Muitos têm um grau mais leve de autismo. Na síndrome de Asperger, por exemplo, a principal característica é o isolamento e até a irritação em alguns casos. Mas eles não possuem dificuldade na fala e no aprendizado —, afirma Ana Wolff.

O tratamento do autismo pode ser realizado com medicamentos, em casos mais graves, mas principalmente com o apoio de profissionais como psicólogos, pedagogos, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, nutricionistas e neurologistas e, claro, dos pais. O acompanhamento deve ser diário.

As conquistas ocorrem todos os dias

Na AMA, por exemplo, as salas de aula contam com no máximo quatro alunos. Duas professoras os ajudam a entender jogos didáticos _ com formas geométricas, os ensinam a ir ao banheiro, a brincar, a conhecer letras, animais e cores. O trabalho é de formiguinha, mas o resultado é gigantesco.

Atualmente, 85 crianças e adultos são atendidos pela AMA, que completou neste ano 25 anos de atividades. A entidade é mantida com doações e parcerias. Para ajudar, as doações em dinheiro podem ser feitas na conta de número 06759-8, agência 0828-1 do Banco do Brasil.

Direito de ir à escola

Desde dezembro de 2012, a publicação da lei chamada de Berenice Piana trouxe novos direitos aos autistas brasileiros. Depois de anos de luta, a carioca Berenice, mãe de um jovem com autismo, conseguiu convencer deputados, senadores e a presidente Dilma Rousseff de que autismo é um tipo de deficiência. Junto disto, todos os direitos que os deficientes físicos e intelectuais conquistaram ao longo dos anos foram concedidos aos autistas.

— Antes da lei, o autista era invisível. Se uma escola não quisesse matricular uma criança, ela poderia simplesmente negar. Hoje não é mais assim —, explica a própria Berenice Piana.

Mesmo com a lei, em vigor há seis meses, pais joinvilenses encontraram dificuldades em matricular autistas na rede pública. A dona de casa Sandra Mara Gretter, 37 anos, por exemplo, não encontrou vaga nos centros de educação infantil. O filho, Vítor Pinter, de quatro anos, tem autismo e ainda não consegue falar. Ele precisava do apoio da chamada segunda professora ou da educadora, que atuam em escolas para garantir a educação inclusiva.

Batalha para que lei seja cumprida


Na luta desde o ano passado, foi somente em maio, há cerca de três semanas, que Sandra conseguiu uma vaga em um CEI perto da casa dela.

— Primeiro, encontraram um lugar em um CEI do São Marcos, sendo que moro no bairro Floresta. Pressionei mais um pouco para conseguir uma vaga perto de onde moro —, conta a mãe.

Vítor está na escola com crianças da idade dele, com uma auxiliar, que poderá garantir a melhoria e o avanço na interação com as demais pessoas.

— Notei a diferença nestes poucos dias que ele está no CEI —, ressalta Sandra, sobre a importância da inclusão nas escolas regulares.

No caso de Muryllo Leite, a vaga em uma escola foi mais fácil de ser encontrada. A Escola Jandira D'Ávila conta com 17 alunos com algum tipo de deficiência ou transtorno. O filho de Amanda Leite ainda é o único autista e conta com o apoio da segunda professora, Sandra Esther Soares, que cuida exclusivamente dele.

— As demais crianças sabem que Muryllo é diferente. Que muitas vezes as atividades precisam ser outras, que temos um horário para fazer trabalhos embaixo de uma árvore que existe no pátio, enquanto eles ficam na sala, por exemplo. E eles entendem muito bem. Todos querem ajudar —, salienta a professora.

Salas multifuncionais

A supervisora do Núcleo de Educação Especial da Prefeitura de Joinville, Caren Fettback, diz que na rede municipal os auxiliares de educadores atuam nas salas de recursos multifuncionais, no contraturno do ensino regular e nas salas de aula. A cidade tem atualmente 42 salas multifuncionais. O objetivo é chegar a 58 até o fim do ano que vem.

Para conseguir uma vaga em escolas e CEIs, o processo é igual para todos.

— Muitas vezes, os pais reclamam que não encontram vagas, mas temos uma demanda muito grande. Eles entram na fila com os demais interessados e, às vezes, não conseguem uma vaga perto de casa —, observa a supervisora.

Atualmente, 844 crianças e adolescentes que possuem algum tipo de deficiência estudam nas escolas municipais de Joinville. A Prefeitura também tem uma parceria com a Associação dos Amigos dos Autistas (AMA). Ela lembra que a cidade foi eleita ainda neste ano como a mais inclusiva do Brasil.

Luta pelos autistas

Berenice Piana, carioca, mãe de autista e uma das idealizadoras da lei que leva o seu nome e que garante direitos às pessoas com autismo

Hoje, meu filho tem 19 anos. Quando ele era criança, pouco se falava em autismo, muito menos sobre o tratamento. Dayan não se enturmava, ele deixou até de usar roupas. A maior luta da minha vida foi encontrar profissionais que diagnosticassem meu filho com autismo. Eu mesma tive que diagnosticá-lo. A confirmação só veio quando ele tinha seis anos, depois de insistir muito. Com o passar dos anos, a situação não havia mudado. Não existia nada para proteger os autistas. Resolvi então me mexer. Resolvi ir a Brasília. Bati na porta de muitos gabinetes e ouvi muito "não". Até que o senador Paulo Paim (RS) me ajudou. Ele ficou impressionado com a minha luta. Conseguimos realizar uma audiência pública sobre o assunto. Para a nossa surpresa, vieram profissionais de todas as partes do País.

Foi em 2009 que a nossa luta realmente começou. Foram três anos até a sanção da lei. Várias vezes tive que brigar para o projeto não ser arquivado. Em dezembro de 2012, tivemos uma vitória maravilhosa, quando a lei foi assinada pela presidente Dilma Rousseff.

Muitos relutaram pelo fato de chamar o autista de deficiente. Mas a própria Organização das Nações Unidas (ONU) reconheceu isso em 2008. Também não tivemos outra opção para garantir os direitos. Vimos muitos pais chorando porque seus filhos não conseguiam ir para escola, não conseguiam um trabalho. Agora, temos uma nova luta. Tirar a lei do papel e exigir o cumprimento dela. Os pais que não conseguirem matricular seus filhos em escolas precisam fazer a denúncia ao Ministério Público. O preconceito também precisa ser denunciado. Só assim vamos garantir o direito aos autistas.
Confira uma galeria de fotos:

http://diariocatarinense.clicrbs.com.br/sc/noticia/2013/05/novela-amor-a-vida-chama-atencao-para-o-autismo-e-para-historias-de-perseveranca-4156529.html