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segunda-feira, 25 de julho de 2011

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sexta-feira, 1 de julho de 2011

Autismo: Pais têm que entrar no mundo de crianças afectadas

Autismo: Pais têm que entrar no mundo de crianças afectadas


Uma “saída” para o autismo é quase sempre possível, mas exige, mais do que técnicas, a capacidade de os pais “entrarem” primeiro no mundo dos filhos e criarem canais de comunicação e relacionamento, defende o especialista norte-americano Raun Kaufman.
Kaufman, que a Associação Vencer o Autismo traz a Lisboa e Porto este sábado e segunda-feira para uma série de conferências gratuitas, apresenta-se como um ex-autista classificado como irrecuperável na infância, isolado e com um coeficiente de inteligência mínimo, e que alcançou uma recuperação total graças à perseverança dos pais.
“Eu não dizia uma palavra. Balançava para a frente e para trás ou punha pratos a girar. Quando o fazia, os meus pais sentavam-se ao meu lado e giravam pratos comigo”, descreveu Kaufman, em entrevista à Lusa.
A participação dos pais nestas tarefas que servem de refúgio para os autistas, em vez de tentar mudar comportamentos com castigo ou recompensa, permite estabelecer uma relação, e assim a comunicação e a capacidade de socializar, afirma.

“É muito importante, antes de tentar mudar comportamentos, criar uma relação estável. Primeiro que tudo, juntamo-nos ao nível deles. As crianças mostram-nos a entrada, nós mostramos a saída”, afirma Kaufman, que com base na sua experiência criou o programa “Son Rise”, nome do livro escrito em 1973 pelo pai de Raun acerca do “triunfo” sobre este distúrbio.
Metade do programa, que já envolveu perto de 25 mil famílias, consiste em técnicas específicas a usar para ajudar as crianças a sair do isolamento. A outra parte é “trabalhar a própria atitude dos pais”, refere.
Além do “crucial” envolvimento dos pais, o relacionamento com a criança deve preceder qualquer tipo de aprendizagem de leitura ou matemática, para “não pôr a carroça à frente dos bois”, defende.
“Isto não tem a ver com sucesso académico, mas sim com criar uma relação e depois ensinar a socialização e a construir amizades com as pessoas”, sustenta.
Na opinião do especialista, “provavelmente o mais negligenciado aspeto do autismo” é a criação de um ambiente de “relaxamento e conforto” para as crianças.
“Para estas crianças o mundo parece muito caótico, imprevisível, e às vezes assustador, portanto tornam-se stressadas ou desconfortáveis", diz Kaufman, que acrescenta: "Num meio amigável, elas usam mais linguagem, relacionam-se mais".
O número de casos de autismo entre as crianças tem disparado nos últimos anos, e é hoje de um em 100, de acordo com as associações.
Apesar da muita investigação feita a nível académico sobre as razões para este aumento, ainda não existe uma explicação consensual, embora haja indicações de que o autismo resulta de uma predisposição genética e é desencadeado por um incidente (por exemplo uma agressão ou insulto) nos primeiros tempos de vida, afirma Kaufman.
Em qualquer caso, o diagnóstico de autismo não é "uma sentença de que as crianças não vão poder ir à escola, ter amigos ou uma vida normal, refugiando-se em objetos ou em comportamentos repetitivos", garante o especialista.
“Cada vez mais crianças estão a recuperar, e mesmo os que não recuperam totalmente fazem mudanças gigantescas”, aponta.
O "Son Rise" não tem estatísticas precisas sobre a percentagem de indivíduos que recuperam com o programa, mas “99 por cento registam progressos muito significativos”, diz.
“Posso dar a esses pais um sentido de esperança, para não acreditarem na mensagem de desistirem das crianças. Há luz ao fundo do túnel”, afirma Raun Kaufman.
Diário Digital / Lusa

http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?section_id=62&id_news=519204&page=3